Filhos de hansenianos terão de deixar colônia do Lauro
Vereador Markinho Souza recorrerá ao prefeito para agendar reunião com o Estado e propor que moradores assumam despesas
Fotos: Samantha Ciuffa |
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Atualmente, 20 famílias, totalizando 68 pessoas, vivem na colônia do Lauro de Souza Lima |
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Markinho afirma que impasse pode ser resolvido com diálogo |
Os filhos com mais de 21 anos dos pacientes com hanseníase que vivem na Colônia Aymorés, do Instituto Lauro de Souza Lima, terão de deixar o local até o final deste ano. A decisão foi tomada pelas secretarias estaduais da Saúde e da Fazenda com base em uma resolução de 2001, que não vinha sendo cumprida. Inclusive, as famílias já estão sendo notificadas.
Na corrida contra o tempo, os moradores acionaram o vereador Markinho Souza (PP), que tenta mediar uma solução para o caso. A intenção é recorrer ao prefeito Clodoaldo Gazzetta para que ele solicite agendamento de reunião com o secretário estadual da fazenda, Luiz Cláudio Rodrigues de Carvalho, para discutir o assunto.
"No passado, estes pacientes já foram arrancados à força de suas famílias pelo Estado e, agora, correm o risco de ver a história se repetir. É uma situação muito triste, que precisa ser solucionada com diálogo", comenta Markinho. O prazo para a saída definitiva dos filhos maiores de 21 anos, com exceção dos que possuem incapacidade física permanente para o trabalho, é 31 de dezembro.
Na semana passada, o parlamentar esteve no instituto para conversar com os moradores. Atualmente, 20 famílias, totalizando 68 pessoas, vivem na colônia do Lauro, entre eles maridos, esposas, pais, filhos e irmãos dos pacientes.
PROPOSTA
Embora o Estado não confirme, nos bastidores acredita-se que a decisão foi tomada como forma de reduzir custos, já que gastos com água e energia elétrica são bancados pelo poder público. Por este motivo, Markinho acredita que seja possível reverter a decisão, já que as moradias da colônia foram construídas pelo governo estadual em área que pertence à Sociedade Beneficente Doutor Enéas de Carvalho Aguiar.
"Nossa sugestão é que o Estado doe estas casas para a sociedade beneficente e que, a partir de então, as famílias assumam o custeio destas contas e outros possíveis tributos. Elas estão dispostas a pagar", acrescenta, salientando que outras despesas, como alimentação, já são garantidas, atualmente, apenas aos hansenianos.
Hoje, vivem na Colônia Aymorés famílias apenas de pacientes antigos, que foram internados compulsoriamente e afastados do convívio familiar, em um momento da história permeado pelo preconceito com os doentes de hanseníase. "São pessoas que estão acostumadas a viver naquele local, confinadas. Uma nova separação, neste momento, seria um prejuízo emocional muito grande para todos os envolvidos", observa o vereador.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde reforçou que a medida "é amparada judicialmente e segue a legislação, respeitando os direitos das pessoas envolvidas no processo".
'RETROCESSO'
Elias de Souza Freitas vive na colônia há 18 anos com a esposa e filha. Em entrevista concedida à TV Câmara e exibida na sessão legislativa de ontem, ele lembrou o estigma a que todos os hansenianos foram submetidos no passado e destacou que a retirada de familiares depois de tanto tempo seria um retrocesso. "Nós somos sofridos. Como acontece no Rio de Janeiro e no Acre, o governo dividiu as terras no entorno do hospital e construiu casas para os hansenianos. O mesmo deveria ser feito aqui", comenta.
Também asilada, Neusa Rio Branco também está preocupada, já que tem duas filhas com idade superior a 21 anos, que, segundo ela, não possuem condições de viver fora da colônia. "Eu vim para cá com 22 anos. Passei minha mocidade toda aqui dentro e nunca saí daqui. Para viver em outro lugar, agora, não tem condições. E quero que elas continuem vivendo comigo", afirma.