‘Selva urbana’ revolta população
Período de chuvas potencializa problema do mato alto; somente no ano passado, prefeitura notificou 6.285 proprietários
Fotos: Douglas Reis |
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Terreno que mais parece uma minifloresta na quadra 20 da rua Felicíssimo Antônio Pereira |
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Na quadra 34 da rua Rio Branco, Jardim Estoril, o matagal já está invadindo a calçada, forçando os pedestres a andarem pela rua: risco de acidentes |
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Terreno entre as ruas Raposo Tavares e Manoel Bento Cruz acumula mais de dez notificações em pouco mais de cinco anos: mato alto persiste |
Não é exagero dizer que miniflorestas estão se formando por toda Bauru. A própria prefeitura afirma que a cidade possui aproximadamente 40 mil terrenos sem construção. Acontece que nem todos fazem o dever de casa: mato alto e sujeira têm revoltado a população, que teme consequências graves como a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor, inclusive, da febre amarela.
As "selvas urbanas" ganham ainda mais vigor agora, já que a chuva ajuda o mato a crescer muito mais rapidamente. O JC percorreu alguns trechos e constatou cenas degradantes em vários endereços: matagal atingindo quase dois metros de altura e avançando pelas calçadas são alguns dos exemplos.
O problema, contudo, não se resume somente a essas áreas, infelizmente. Somente em 2017, o município expediu 6.285 notificações para limpeza de terrenos com mato alto. A resposta do proprietário nem sempre é ágil, uma vez que existem várias etapas até que haja, de fato, a aplicação de multa. Enquanto a irregularidade não pesa no bolso do infrator, quem sofre são os vizinhos. Caso do aposentado Laércio Fileti, 62 anos.
Ele mora na quadra 4 da rua Brasil, no Jardim Terra Branca, bem ao lado de um terreno tomado pelo mato, que já está quase cobrindo o muro de sua residência com aproximadamente 2,5 metros de altura. "Está parecendo a Floresta Amazônica. Já faz tempo isso. Junta bicho peçonhento e oferece risco à saúde de todos".
'MOTEL CLANDESTINO'
Também é alarmante o cenário entre as ruas Raposo Tavares e Manoel Bento Cruz, no Higienópolis. Embora tenha acumulado mais de dez notificações em pouco mais de cinco anos, o terreno segue abandonado e, além do matagal, serve ainda de despejo de lixo. A mesma área já foi alvo de protesto porque o local havia se transformado em um "motel clandestino", conforme o JC divulgou à época. Parece que os hábitos por ali ainda são os mesmos.
É o que afirma a aposentada Liomar Pascoal, 77 anos, que mora bem em frente ao terreno. "Muita gente entra para fazer sexo, usar drogas. Sem contar os riscos à saúde. Pelo menos nove pessoas tiveram dengue aqui na região no ano passado, incluindo o meu marido. A gente procura a prefeitura cobrando providências, mas nada acontece".
INVADINDO A CALÇADA
O episódio se repete na quadra 34 da rua Rio Branco, Jardim Estoril, onde o mato invade a calçada. Um dos vizinhos, que preferiu não se identificar, preocupa-se com acidentes. "Não tem como passar pelo passeio público. Os pedestres precisam andar pela rua e o fluxo de carro aqui é grande. Uma hora alguém será atropelado".
Quando não chove, o morador ressalta que o ambiente fica infestado de pernilongo. "Além dos bichos peçonhentos, todos temem por assaltos. Esse matagal é ideal para o ladrão se esconder".
A reportagem se deparou, também, com um terreno em situação crítica na quadra 20 da rua Felicíssimo Antônio Pereira, no Jardim Eugenia, que fica entre uma escola infantil e uma creche. "Há muita criança em volta. Imagina o risco à saúde delas? Alguém precisa tomar providências", critica uma vizinha, que não quis se identificar.
PROVIDÊNCIAS
Em nota, a prefeitura informou que, sobre o terreno localizado entre as ruas Raposo Tavares e Manoel Bento Cruz, no Higienópolis, o proprietário foi autuado em janeiro de 2017 e tomou providências. No final de dezembro do ano passado, foi protocolada nova denúncia, que está com o fiscal para vistoria. "As demais reclamações não havia denúncias na Vigilância Ambiental, que, agora foram protocoladas, e os fiscais irão vistoriar e notificar os proprietários", acrescenta.
Estudo para agilizar autuações
A Prefeitura de Bauru informou que está estudando uma nova forma, mais eficaz, de autuação dos proprietários para que realizem a limpeza dos terrenos com mato alto. Atualmente, as medidas de punição são morosas porque, segundo a Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde, a notificação segue algumas etapas: verificação para saber se a reclamação está protocolada, notificação ao proprietário, prazo de 15 dias pra limpeza.
"Caso a limpeza não seja feita, é aberto um processo administrativo com auto de infração que pode gerar multa que varia de R$ 152,54 a R$ 5.796,53, dependendo da gravidade e da reincidência", informa nota enviada pela assessoria de comunicação da prefeitura.