Vozes do tempo
Parque Vitória Régia, Rua Batista de Carvalho e Estação Ferroviária Noroeste ganham guias em áudio que permitem a bauruense viajar pelo passado
JC Imagens |
![]() |
Concha acústica do Parque Vitória Régia, que serve de cenário para o primeiro roteiro do audiotour Vozes do Tempo: cenas ‘sonoras’ de batalhas entre indígenas e bugreiros |
Divulgação |
![]() |
Os idealizadores do Audiotour: Luís Paulo Domingues, João Correia Filho e João Flávio Lima |
Entre 1850 e 1851, na região onde é hoje o Parque Vitória Régia, o Córrego das Flores fazia as vezes de fronteira entre as propriedades da região. O local também servia de pouso aos pioneiros que se sentiam encorajados a adentrar a Boca do Sertão, como Bauru era chamada em meados do século XIX.
Histórias como essas, esquecidas pelo tempo, agora estão disponíveis a todo bauruense e a quem visita a cidade por meio do Audiotour Bauru – Vozes do Tempo, projeto contemplado pelo Prêmio Municipal de Estímulo à Cultura 2017 e lançado na última quinta-feira na cidade.
O trabalho é composto de três roteiros históricos pelas ruas de Bauru, de aproximadamente 30 minutos cada. Os áudios, que podem ser baixados gratuitamente no site do projeto (https://www.vozesdotempo.com), conduzem o viajante pela cidade através de uma experiência auditiva, que mistura música, ambientação e efeitos sonoros.
No site, também é possível baixar mapas da região por onde o visitante será guiado, os trajetos e acessar imagens históricas de Bauru. Tudo isto feito de forma gratuita.
Divulgação |
![]() |
Homens do acampamento Jacaré, no ‘picadão’ do Km 100 da Boca do Sertão |
Os roteiros abordam três períodos da história de Bauru, contemplando três pontos importantes da cidade: o Parque Vitória Régia, a Rua Batista de Carvalho e a Estação Ferroviária Noroeste (veja mais na página XX).
A linguagem dos áudios é moderna, instigante, e foi pensada para dialogar com pessoas de todas as idades. Este é um dos pontos positivos do projeto, na opinião do jornalista João Correia Filho, criador e diretor do Vozes do Tempo.
“Os áudios têm um aspecto turístico, que interessa a quem quer conhecer a cidade e os locais importantes para sua história, e um aspecto educacional, pois pode ser usado em escolas, como material didático complementar em aulas de História”, explica Correia Filho.
Isto é possível porque nos roteiros em áudio os locutores guiam o ouvinte pelos locais visitados – indicando, inclusive, as direções para onde devem ir – enquanto vão contando histórias sobre a ocupação dos locais e curiosidades.
O radialista e músico João Flávio Lima, diretor de áudio do projeto, destaca que o audiotour é um trabalho de fôlego, que envolveu várias etapas durante a produção. Esse empenho teve como objetivo construir paisagens sonoras que representassem a atmosfera histórica e cultural da cidade e tornassem o conteúdo atraente.
“Um dos grandes desafios foi orquestrar todas as vozes e cenários sonoros e transformá-los num arquivo de áudio único, que vai conduzindo o ouvinte, literalmente, passo a passo pela cidade”, explica Lima. Saiba como participar dessa imersão auditiva pela história da cidade no texto a seguir.
COMO OUVIR
Proposto pelo Instituto Índisce (Instituto Nacional de Desenvolvimento e Integração Social, Cultural e Educacional), o Audiotour Bauru – Vozes do Tempo pode ser acessado por meio do site https://www.vozesdotempo.com.
Lá, os áudios dos três roteiros, no formato mp3, mundialmente utilizado, podem ser baixados gratuitamente e ouvidos em qualquer aparelho de som (player), incluindo celulares, smartphones e tablets. Se preferir, o leitor do Jornal da Cidade pode acessar o site direto pelo QR Code disponível nesta edição do JC nos Bairros.
Para isso, basta ter um leitor de QR Code no celular e colocá-lo frente à imagem ao lado. O código abrirá o site Vozes do Tempo, onde estão os roteiros em áudio.
|
Projeto foi selecionado pelo Prêmio Municipal de Estímulo à Cultura
O Audiotour Bauru - Vozes do Tempo teve sua execução proposta em 2017 por meio de participação em edital do Prêmio Municipal de Estímulo à Cultura 2017.
Instituído pela lei municipal nº 5.575/2008, o prêmio tem como objetivo incentivar e fomentar a produção cultural e artística da cidade por meio do financiamento de projetos de pessoas físicas e jurídicas residentes em Bauru.
O audiotour foi um dos projetos selecionados pela comissão julgadora do prêmio, que, como determina a lei, é formada por cinco pessoas: dois funcionários da Secretaria Municipal de Cultura, nomeados pelo secretário de Cultura; e três membros do Conselho Municipal de Política Cultural, indicados por representantes de entidades não governamentais que compõem o conselho.
Contemplado pela edição 2017 do prêmio, o Vozes do Tempo foi desenvolvido ao longo de 2018 e 2019. As etapas do trabalho envolveram pesquisa histórica, redação de roteiros, gravação, edição e montagem do site, que foi lançado oficialmente na última quinta-feira, dia 25 de julho.
Em razão do resultado positivo do projeto, na avaliação da equipe produtora, a expectativa é de recepção positiva do conteúdo por parte da comunidade bauruense.
"O audiotour é uma forma bem criativa e diferente de apresentar a história de Bauru. Esperamos que as pessoas gostem do resultado", diz o jornalista Luís Paulo Domingues, autor do livro "Fronteira infinita: Índios, bugreiros, escravos e pioneiros na Bahurú do século XIX" e responsável pela pesquisa histórica e pelos textos do Vozes do Tempo.
Roteiros têm indígenas, pioneiros e ferroviários
Guias relembram a origem da Bauru, em 1850, a formação do núcleo urbano e a chegada dos trens ao município
O Audiotour Bauru - Vozes do Tempo é composto por três roteiros, que começam em 1850, relembrando a origem da cidade, passam pela formação do núcleo urbano, no século XIX, e recontam a chegada das ferrovias e a transformação do município no maior entroncamento ferroviário do Brasil, no século XX.
O primeiro roteiro, denominado Boca do Sertão, tem como cenário a região do Vitória Régia; Primeiras Vias, aborda a Rua Batista de Carvalho e passa pela Praça Ruy Barbosa; e As Ferrovias, tem início na Estação Ferroviária da Noroeste.
Cada um deles leva o ouvinte a uma etapa da história de Bauru, trazendo locução, música e efeitos, cujo trajeto e ambientação sonora transportam a pessoa sonoramente a cenários que ensinam sobre o passado, o presente e o futuro da cidade sem limites.
Os conteúdos históricos são apresentados em uma linguagem dinâmica e coloquial, que permite ao ouvinte contemplar o som ao mesmo tempo em que é conduzido pelo áudio. "Desta forma, o roteiro fica atraente, sem ser maçante ou cansativo, permitindo que o viajante seja guiado de forma prazerosa pelo passeio", avalia João Flávio Lima, diretor de áudio do Vozes do Tempo.
Boca do Sertão
Divulgação |
![]() |
Acima, imagem histórica da Fazenda Faca, uma das propriedades rurais da região onde seria criado o município de Bauru, abordado no primeiro audiotour |
O primeiro roteiro do Audiotour Bauru – Vozes do Tempo é Boca do Sertão. Com duração de cerca de 28 minutos, o passeio aborda a chegada dos pioneiros e a formação do bairro rural do Bauru.
Esse guia tem início na arquibancada do anfiteatro e contorna toda sua concha acústica, seguindo a pé pelas pontes, áreas arborizadas e calçadas do parque.
No roteiro, as locuções e a ambientação transportam o viajante para a chegada dos primeiros não indígenas à região, às batalhas com os Kaingangues, habitantes da região, e ao processo de ocupação das terras do noroeste paulista.
Por meio da locução e dos sons adicionais, o ouvinte fica sabendo que a batalha entre os indígenas e os invasores durou 62 anos e descobre como Felicíssimo Antônio Pereira chegou às terras hoje conhecidas como Bauru, após vida dura de isolamento no sertão paulista.
Seguindo a caminhada, o viajante conhecerá outras histórias interessantes do entorno do Vitória Régia, como a explosão da avenida Nações Unidas no dia da visita do presidente Ernesto Geisel, em 1976.
Primeiras Vias
![]() |
Imagem da quadra 12 da rua Araújo Leite em 1908, onde havia poste com ligação telefônica e um lampião de iluminação pública; primeiras vias são tema do segundo guia |
O segundo roteiro do Audiotour Bauru – Vozes do Tempo é Primeiras Vias, com duração de 37 minutos. Este guia trata da formação do núcleo urbano no final do século XIX.
O trajeto inicia-se no coreto da Praça Rui Barbosa e segue por toda a Rua Batista de Carvalho, o Calçadão da Batista, contando a história da igreja matriz.
Os casarões da região, em arquitetura Art Decô e no estilo Eclético, bem como a relação desses estilos arquitetônicos com a economia e a política da época, também são abordados nesse roteiro.
Nele, o viajante conhece ainda a história dos homens que deram início à emancipação e urbanização da cidade, como Virgílio Malta, Araújo Leite, Gerson França, entre outros, que denominam ruas importantes de Bauru.
Seguindo a pé pela região central, o viajante escuta como alguns conflitos armados ocorreram nessa época, como a Revolução de 1924, que gerou um episódio importante na rua Monsenhor Claro, com rebeldes entrincheirados para uma emboscada aos soldados do exército que desembarcariam na Estação Noroeste.
As Ferrovias
![]() |
Família de Joaquim dos Santos, um dos últimos a ocupar a região das corredeiras; cenário mudaria com a chegada das estradas de ferro |
As Ferrovias é o nome do terceiro roteiro de Vozes do Tempo. Com duração de cerca de 32 minutos, aborda a chegada dos trens e da riqueza do município no início do século XX por meio das atividades das ferrovias operantes: Sorocabana, Noroeste e Paulista. A grande estação da Noroeste e transformação da cidade no maior entroncamento ferroviário do Brasil também fazem parte do áudio.
O trajeto começa em um banco da Praça Machado de Melo, em frente à Estação Noroeste, e leva o ouvinte a conhecer o período de formação de uma Bauru nos trilhos da modernidade, entre 1904 e 1910.
Unindo passado e presente, o trajeto inclui o interior do edifício, com visitas à Casa de Cultura Hip Hop e demais dependências culturais sediadas na antiga estação, bem como as construções históricas dos arredores.
Para envolver o ouvinte na atmosfera histórica, foi reconstruído sonoramente o ambiente de uma viagem de trem, com as pessoas esperando a hora do embarque, o burburinho da partida e o som dos motores antes da partida.
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
Trabalho de pesquisa e produção durou 2 anos
Jornalistas, músicos e radialistas integram a equipe do projeto do audiotour bauruense
Divulgação |
![]() |
Os jornalistas João Correia Filho e Luís Paulo Domingues e o radialista João Flávio Lima no Parque Vitória Régia, conferindo marcações do roteiro |
A equipe que responde pela produção e execução do Audiotour Bauru - Vozes do Tempo é formada por profissionais de várias áreas, o que foi fundamental para garantir os aspectos multidisciplinar e multimídia do projeto.
O trabalho tem direção de criação do jornalista João Correia Filho, autor dos guias turísticos-literários "À Luz de Paris", "São Paulo Literalmente" e "Buenos Aires, Livro Aberto" e "Lisboa em Pessoa", vencedor do Prêmio Jabuti no ano de 2012, na categoria turismo, e autor de reportagens jornalísticas e roteiros publicados no Brasil e no exterior.
![]() |
Guias do Audiotour Bauru podem ser ouvidos em dispositivos móveis |
A direção de som ficou por conta do produtor, programador e músico João Flávio Lima, que atua na Rádio Unesp FM e na produção de documentários relacionados ao universo musical.
A pesquisa histórica foi executada pelo jornalista, músico e escritor Luís Paulo Cesari Domingues, autor dos livros "Boca do Sertão - a História de Piratininga na Marcha do Café" e "Fronteira infinita: Índios, bugreiros, escravos e pioneiros na Bahurú do século XIX", que trata da ocupação humana na nossa região, a partir de 1850 e que originou a firmação da cidade. Luís Paulo divide a autoria dos textos com João Correia Filho.
O projeto também teve a locução da jornalista e radialista Camila Ravanelli e do radialista Guilherme Dias, produção executiva de José Vinagre, revisão de conteúdo por Fabiana Biscaro e design por Gustavo Domingues. Emílio dos Santos assina a trilha sonora.
Unir tantos profissionais em torno do projeto justifica-se pelo desconhecimento de parte da população a respeito da história local. "A história da origem de Bauru ainda é desconhecida, está encoberta, pois a maioria das informações dá conta do período das ferrovias", argumenta Luís Paulo Domingues, responsável pela pesquisa histórica e os textos do projeto.
"Tenho percebido nas palestras e aulas que ministro que esse conteúdo aguça muito o interesse das pessoas.
Há um grande interesse neste período da história", destaca Domingues.
Por essa razão, a decisão da equipe foi de que o audiotour Vozes do Tempo abordasse as origens de Bauru, a partir de 1850, como dos indígenas que habitavam a região e dos primeiros não indígenas que chegaram aqui, e também as histórias de meados do século XIX até chegar às ferrovias, no século XX.
Site pode ser usado por escolas de Bauru
A ideia é que o Audiotour Bauru - Vozes do Tempo se torne, além de guia turístico, uma ferramenta pedagógica e de aprendizado em escolas, instituições culturais e de ensino, bem como à população como um todo.
"O conteúdo dos áudios permite várias dinâmicas com alunos de toda rede pública e privada da cidade, atingindo um grande número de crianças e jovens. Além de ser uma opção de passeio turístico pela cidade, incentivando visitantes e a população bauruense a ocupar os locais públicos", afirma o jornalista João Correia Filho, criador e diretor do projeto Vozes do Tempo.
Isto é possível por que o site Vozes do Tempo disponibiliza fotos, mapas, arquivos do Google Maps, transcrições e informações complementares de cada roteiro, que podem tornar a viagem ainda mais enriquecedora.
"Há, inclusive, um Quiz com perguntas sobre os três roteiros, que pode ser usado como atividade em sala de aula", completa o jornalista.
Para isso, tanto o site quanto os áudios foram pensados de maneira bastante cuidadosa. "Buscamos uma linguagem moderna, jovem, para despertar o interesse dos estudantes e de pessoas de várias faixas de idade", explica Correia Filho.
Em https://www.vozesdotempo.com, há material extra, com os textos integrais dos roteiros, imagens históricas e textos complementares, que permitem ao viajante ir além dos passeios guiados pelo áudio.
MUNDO
Os audiotours, ou audioguias, como também são conhecidos, estão presentes nos mais importantes museus do mundo e têm se tornado uma tendência tanto em passeios turísticos quanto em projetos educativos.
Este é o caso da cidade de São Paulo, que lançou recentemente uma série de roteiros a pé, audioguiados, que permitem ao visitante conhecer os patrimônios da capital paulista e sua história. Outras cidades ao redor do mundo também têm criado iniciativas similares.
"O formato é bastante democrático, pois favorece o acesso a conteúdo histórico e informativo a públicos diversos, entre eles analfabetos e pessoas com deficiência visual. Outra vantagem do áudio, quando concebido com linguagem coloquial, é ser acessado por diferentes faixas etárias e formações", avalia Daniela Bochembuzo, professora dos cursos de Comunicação da Universidade do Sagrado Coração e pesquisadora de mídias sonoras.
Ela acrescenta que o áudio, quando combina música, voz e efeitos sonoros a partir de um texto, pode propiciar a criação de cenários sonoros. "Essa ambientação, que chamamos de paisagem sonora, suscita a participação do ouvinte de maneira muito criativa, levando-o a dialogar mentalmente com o conteúdo em áudio", acrescenta.
|